terça-feira, 28 de abril de 2009

Crise Agrária no Pará: Capítulo VII



Conflitos rurais mataram mais de 800 no Pará
Brigas entre sem-terra e fazendeiros não têm fim.

Os repórteres do Fantástico desembarcam na região mais explosiva do Brasil. Cenário de disputas que, dos anos 70 para cá, já mataram 800 brasileiros. A situação é tão tensa que o Pará é o único estado com um comando especial para conflitos agrários. Mas muitas vezes nem isso basta. Você vai conhecer agora homens que só andam com escolta armada, marcados para morrer. A reportagem é de Eduardo Faustini.

“Aqui nessa região se mata por nada, para nada”, diz frei Henri des Roziers, coordenador da Pastoral da Terra.

“Tem que andar em caminhonete, carro blindado. Para ir na rua resolver meus problemas particulares eu tenho que ir com segurança”, conta Oscar Boller, gerente da Agropecuária Santa Bárbara.

“Eu recebi mensagem por telefone, dizendo que em breve Xinguara estaria sem prefeito”, relata Davi Passos, prefeito de Xinguara.

Xinguara fica no sul do Pará, a 900 quilômetros de Belém. Parece uma cidade pacata, mas sua área rural é um barril de pólvora.

No dia 18 de abril, sem-terra e seguranças da fazenda Espírito Santo se enfrentaram. Uma equipe da TV Liberal, afiliada da TV Globo no Pará, registrou o confronto. O grupo do MST avançou em direção às casas de funcionários da agropecuária. Quebraram o carro que era usado para bloquear a passagem. Houve tiroteio e oito pessoas ficaram feridas. Os sem-terra que participaram da ação vivem em dois acampamentos ao longo da rodovia P-A 150, que liga Xinguara a Eldorado dos Carajás.

Paulo Ferreira Lima, 18 anos, é filho do sem-terra conhecido como Índio, que apareceu sendo socorrido.

“Ninguém podia deixar uns irem na frente, e outros ficar para trás, unidos, a fila que sempre faz, e fomos seguindo até onde desse”, conta Paulo.

Valdivino de Sousa se recupera do tiro que levou no confronto. Veio da Bahia para tentar a vida no Pará. Chegou ao acampamento há três anos, com a mulher e quatro filhos.

“Ela tem uns irmãos que bebe muita cachaça, aí não bate comigo, começamos a discutir, aí foi quando surgiu aqui o movimento de entrar nessa fazenda, aí eu vou lá para os sem-terra, diz que lá é a chance da gente conquistar um pedaço de terra e fui para lá”, diz Valdivino.

“Não tem como ter uma vida melhor do que essa, aqui pelo menos não paga aluguel, energia, e come do que a terra produz”, completa.

Os irmãos Charles e Gildonberg também participaram da invasão. São a segunda geração de uma família envolvida nos conflitos de terra. O pai, José da Natividade, sobreviveu ao massacre de Eldorado dos Carajás, na década de 90, em que 19 pessoas morreram.

“Nada mudou, principalmente no estado que vivemos, estado do Pará, que é violento, que não conversa, não tem diálogo e a conversa é responder com bala”, avalia Gildonberg Costa da Natividade.

Balas que também vieram de dentro do grupo que invadiu a fazenda.

“É inegável pelas imagens que havia pelo menos três armas. Do outro lado havia um arsenal muito mais poderoso, e depois, tomando conta dos fatos, as armas que aparecem do lado dos trabalhadores são armas dos posseiros. Que no momento, que estão acampados no acampamento ao lado, se envolveram também no conflito”, comenta Charles Trocate, Coordenação Nacional do MST no Pará.


Hoje, na Fazenda Espírito Santo, quem abre a porteira são os sem-terra. Logo na entrada, montaram uma barricada com sacos de areia. O carro destruído pelos sem-terra está no mesmo lugar.

Várias empresas fazem escolta armada da sede da fazenda, administrada pela Agropecuária Santa Bárbara, que tem como um dos sócios o banqueiro Daniel Dantas. Mesmo com os seguranças, o gerente pediu proteção policial e só anda de carro blindado.

“Eles estão fazendo terror aqui, vivem ameaçando, matam gado toda noite. Dão um tiro e correm, depois quem é MST, quem deu tiro? Não tem CPF, nem documento nenhum”, diz Boller.

O gerente da fazenda acusa o frei Henri pelas invasões em Xinguara.

“Na minha opinião é agitador, porque tudo isso é comandado por ele. Por que fazer isso? Por que não espera a Justiça decidir? O pessoal que está ali dentro, muita gente não é nem do Pará, ele traz gente de fora, ele promove a baderna. Não dá nem para explicar que ele seja católico, um católico não mente”, acusa Boller.

Frei Henri des Roziers é o coordenador da comissão pastoral da terra na cidade. Francês, ele está no Brasil há 30 anos. Admite que apoia o MST, mas nega ser o mandante das invasões.

“Responsável pela invasão, certamente não. Nós assessoramos, fazemos a defesa dessas organizações, por exemplo, entre outras organizações, a do MST, para poder conseguir fazer avançar a reforma agrária e conseguir seus direitos a terra”, defende-se o frei.

Por ordem do governo do estado, frei Henri anda com escolta policial e brinca que o preço pela sua vida deve ser alto demais.

“Porque eu sou velho, sou religioso, matar um religioso é mais complicado, o preço é mais alto. Sou estrangeiro, sou advogado, tudo isso é uma proteção tremenda”, diz.

Durante a entrevista, outro sem-terra baleado no confronto chegou à pastoral.

“Tomei um balaço na perna, outro na coxa e outro na boca. Ainda sinto a bala perto do pescoço”, relata Abidiel Vilarindo, integrante do MST.

A Comissão Pastoral da Terra estuda a violência no campo desde os anos 70. Desse período até hoje, os conflitos mataram mais de 800 pessoas.

Segundo a Pastoral, é no Pará onde morre mais gente em conflitos agrários. Existe no estado um grupamento da Polícia Militar, único no país, especializado em conflitos rurais. Mesmo assim, no ano passado, 13 pessoas foram assassinadas.

“Há uma grande indefinição sobre propriedade de terras, muita grilagem de documentos, muita área pública não destinada e alguma área pública em que há discussão se é área pública federal ou estadual. A rigor não temos situação hoje situação fundiária esclarecida no estado, o que dá margem a uma série discussões e uma série de fraudes tanto ambientais quanto fundiárias”, explica Ubiratan Cazetta, procurador da República/PA.

“Eu acho que se os fazendeiros se unirem e usarem a força do jeito que eles usam, eu acho que resolve”, opina Boller.

“Há um conflito, mais trabalhadores vão ser vítima desse conflito, porque mais ocupações vão ocorrer na região. Não vai sobrar latifúndio nem para fazer remédio na nossa região”, avisa Trocate.

Fonte: Fantástico/Rede Globo.

sábado, 25 de abril de 2009

Crise Agrária no Pará: Capítulo VI


Sexta-feira, 17/04/2009

Raimundo Nonato da Silva vinha denunciando irregularidades na concessão de créditos agrícolas em assentamentos da região. De acordo com família, ele estava sendo ameaçado de morte.

Crise Agrária no Pará: Capítulo V


Quarta-feira, 22/04/2009

A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, pediu que o STF faça intervenção no Pará. Ela criticou a governadora do estado Ana Julia Carepa (PT), que não fez reintegrações de posse. O MST diz que a situação pode piorar.

Crise Agrária no Pará: Capítulo IV


O fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, foi transferido hoje (23) de manhã de Altamira (PA) para uma penitenciária em Santa Isabel do Pará. Ele será levado a júri popular mais uma vez.

Crise Agrária no Pará: Capítulo III


Domingo, 19/04/2009

O clima continua tenso na Fazenda Espírito Santo, em Xinguara, no sul do Pará, onde integrantes do Movimento Sem-Terra entraram em confronto com seguranças e fizeram jornalistas e funcionários reféns.

Crise Agrária no Pará: Capítulo II



Segunda-feira, 20/04/2009

Oito pessoas ficaram feridas após um tiroteio entre integrantes do MST e seguranças de uma fazenda do Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, em Xinguara (PA).

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Crise Agrária no Pará: Capítulo I

Fonte: Jornal Nacional - Rede Globo de Televisão.



Quarta-feira, 22/04/2009

A discussão é sobre a posse da terra. O clima é tenso entre o MST e os representantes da fazenda invadida. Os sem-terra afirmam que vão permanecer no local e ameaçam o governo do estado.